É provável que o desafio mais complexo que a maioria dos empresários poderá enfrentar durante sua carreira à frente de uma empresa familiar é o processo sucessório. Ao longo da trajetória empresarial, é comum o fundador da empresa familiar viver o sonho de continuidade do negócio.
A dificuldade em passar o bastão geralmente está associada a conflitos entre os membros da família e representam as principais fontes de tensão no processo sucessório. Saber lidar com as emoções e medos pode tornar a empresa mais ágil num cenário de constantes mudanças. Também é frequente ocorrer dúvidas como: Os critérios para a escolha dos futuros líderes da família e da empresa; Decisões sobre reinvestimento de lucros; Pagamento de dividendos; Avaliação de desempenho dos membros frente à gestão e Decisões em torno de quem pode ou não trabalhar no negócio.
Algumas pesquisas publicadas sobre o tema nas últimas décadas apontam que essa transição é um desafio, visto que em média 70% das Empresas Familiares não sobrevivem a transição da 1ª para 2ª geração e 87% não sobrevivem à 3ª geração.
Como romper esse ciclo na empresa familiar e não entrar nessa estatística?
Começar o planejamento sucessório o quanto antes aumenta a chance de garantir a longevidade da empresa, de preservar o legado familiar e de promover o desenvolvimento dos atores da família empresária.
Mas, como superar o medo de que o outro tome decisões que comprometam a sobrevivência da empresa e dos familiares?
Uma boa saída para esse dilema é garantir, de alguma forma, a permanência das próximas gerações na empresa, desenvolvendo lideranças ágeis e criando mecanismos que promovam a transparência nas relações das pessoas envolvidas.
Gabriela Baumgart, Conselheira de Administração do Grupo Baumgart e do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, comenta que “Conflitos familiares continuam sendo a principal ameaça para as empresas familiares, por essa razão a importância da governança familiar, que tem entre seus principais objetivos a harmonização da família, integração dos membros, preservação dos valores, legado e história, manutenção do sentimento de pertencimento, acompanhamento dos processos sucessórios, educação e aperfeiçoamento dos acionistas e herdeiros.”
Embora o tema Governança Familiar seja matéria de significativos estudos, é ainda pouco discutido entre a família empresária das empresas de capital fechado de menor porte. Este recorrente padrão ocorre por não ser um tema visto como prioridade e ainda pela ausência de métodos aplicáveis ao contexto de organização de menor porte.
É neste desafio que nos posicionamos, na proposta de traduzir e desmistificar o tema, trazendo-o para aplicação cotidiana das organizações de capital fechado de menor porte que possuem membros da 2ª geração trabalhando na empresa. Nosso propósito é contribuir para o encorajamento de colocar o assunto em pauta e evitar que na família empresária se perdure uma gestão quase que romântica, na qual as decisões são tomadas sem planejamento, com base nas emoções, resolvendo problemas de forma isolada e sem considerar a longevidade do negócio.
A implantação da Governança Familiar, vamos entender o Modelo criado por Renato Tagiuri e John Davis na Harvard Business School (HBS) em 1978. De forma simples e resumida, o modelo dos três círculos, descreve o sistema das empresas familiares como 3 subsistemas independentes, mas sobrepostos (Família, Empresa e Patrimônio), assim qualquer membro da família poderá ser colocado em qualquer um desses subsistemas, uma vez que a chegada de outras pessoas em consequência do crescimento natural das famílias é uma realidade e deve ser compreendida e contemplada dentro das agendas estratégicas da empresa.
Inspiradas nesse modelo e nas boas práticas de governança das empresas de grande porte, compreendemos que iniciar o processo de governança familiar e preparação dos herdeiros para manter as pessoas envolvidas com o legado e a história da família é um caminho maduro e que promove uma tranquilidade para o fundador, facilitando a passagem do bastão para as próximas gerações.
Reforçando nosso entendimento, uma pesquisa realizada pela pwr e IBGC, em 2019 e 2020 com o objetivo de apresentar o panorama das práticas de governança adotadas pelas empresas familiares brasileiras de capital fechado, apontou, dentre os principais Motivos que Levaram a Família a Discutir a Adoção de Práticas de Governança: Aprimorar o modelo de gestão da empresa (67,4%); Contribuir para a longevidade da empresa (54,8%); Facilitar o processo sucessório (38,0%).
Implantar governança familiar gera valor para a empresa? Sim, desde que levada a sério e não como formalidade.
Entendemos que é um dos desafios mais complexos a ser enfrentado pelas empresas de controle familiar, porque é o momento em que todos se veem de frente aos aspectos financeiros, legais, culturais que precisarão ser alinhados e, sobretudo, respeitados para garantir a continuidade do negócio. Há também a responsabilidade de fazer cumprir um papel sócio econômico que a empresa tem na comunidade onde está inserida.
Além de gerar valor para a empresa, facilitará a obtenção de informações mais seguras e com mais qualidade para tomada de decisões, reduz os riscos do negócio e auxilia na mitigação ou eliminação de conflitos de interesses entre os familiares.
Como toda mudança, esse momento proporciona aprendizado, mas também gera sensações de perda, os quais os sucedidos precisarão enfrentar dando espaço para novas competências e habilidades que irão contribuir com o seu legado. Por isso a palavra chave nesse momento é: respeito. Sim, respeito pela história de quem construiu e trabalhou até o momento e respeito pela competência e habilidade de quem foi ou está sendo preparado para assumir o comando a partir desse momento.
Um processo de sucessão bem elaborado contribui para manter o legado da família e a longevidade da empresa. Ao pensar na sucessão de forma proativa, integrando família, empresa e patrimônio, todos crescem juntos, promovendo o desenvolvimento empresarial e das pessoas.
Comece o quanto antes sua jornada da Sucessão, prepare os sucessores, participe da empresa como conselheiro e desenvolva novos projetos!